sexta-feira, 18 de junho de 2010

“O Sorriso” de José Saramago chega ao fim!


"Não há dois sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o irónico, o sorriso de esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?) o de quem morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o Sorriso.
O Sorriso (este, com maiúsculas) vem sempre de longe. É a manifestação de uma sabedoria profunda, não tem nada que ver com as contracções musculares e não cabe numa definição de dicionário. Principia por um leve mover de rosto, às vezes hesitante, por um frémito interior que nasce nas mais secretas camadas do ser. Se move músculos é porque não tem outra maneira de exprimir-se. Mas não terá? Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas? Quando a luz do sol passa sobre os campos ao sabor do vento e da nuvem, que foi que na terra se moveu? E contudo era um sorriso.
(...)
Sorrir assim, mesmo sem olhos que nos recebam, é o verbo mais transitivo de todas as gramáticas. Pessoal e rigorosamente transmissível. O ponto está em haver quem o conjuge."



Saramago era, sem dúvida, o maior e mais incompreendido autor português. A sua morte é uma enorme perda, quer pelo o que representava, quer pelo seu espírito irreverente! Era um Homem (com "H" maiúsculo, sem dúvida)que dizia simplesmente o que pensava, e isto é o que mais admiro nele... Talvez por isso fosse tão incompreendido.

Muitos diziam, "Já tem idade para ter juízo!", mas pessoas como ele não têm idade, são intemporais! Eu acredito que Saramago será para sempre recordado, não só pela geração dos meus pais, pela minha, mas também por todas as gerações que estão por vir.



Morreu José Saramago!
O seu sorriso chegou ao fim, mas fica a sua obra que fará com que seja para sempre recordado...

2 comentários:

  1. 'Aqui não há censura!': frase perfeita para Saramago. Daí essa incompreensão.

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  2. "(...) não fales, Blimunda, olha só, olha com esses teus olhos que tudo são capazes de ver"


    "Ninguém pode ver a sua própria vontade, e de ti jurei que nunca te veria por dentro, mas tu, Baltasar Sete-Sóis, minha mãe não se enganou, quando me dás a mão, quando te encostas a mim, quando me apertas, não preciso ver-te por dentro. Se eu morrer antes de ti, peço-te que me vejas, Morrendo tu, vai-se a vontade do corpo, Quem sabe."


    in "Memorial do Convento", José Saramago


    Das minhas passagens favoritas.
    Um escritor que soube apaixonar quem o compreendia.

    beijinho clarinha =)

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